domingo, 1 de setembro de 2013

Cuidado: raso Profundo

Sabe esses dias que tem tudo para dar certo e de repente dá tudo errado?

Ou nem tudo, mas algo que você quer muito e que, em uma fração de segundo, o cerebro inverte a lógica e te faz acreditar que encontrou a solução (no caso: desistir). E a solução... se transforma no pior dos monstros.

É que não sei desistir. Mas às vezes penso que seria saudável aprender... a questão é: como se aprende uma coisa dessas? Não sei. Não sei mesmo.

E ontem voltei para casa com o peso de todas as coisas que não deram certo nesta vida. Chorei, chorei, chorei... acho que fazia tempo que não chorava tanto.

Agora percebo que o choque de ontem foi muito mais pelo: "estamos entrando no mês nove e meu ano ainda não começou(!!)". O que me remete a crise dos dois meses de tratamento que veio junto com a primeira crise de enxaqueca: não me conformava por não ter me recuperado em DOIS meses!

Nunca imaginei que ficaria tanto tempo afastada do trabalho. E se soubesse, teria sido mais difícil ainda. A vida é incerta, né?

Ontem, no final das contas, cheguei a conclusão de que podia ser só uma TMP profunda; hoje concluí que desesperei e comecei a me afogar no raso de novo.

Já contei como é, né? A vista turva e... é como se viesse água por todos os lados. Manter a calma e não quebrar nada, sem dúvida, é a parte mais difícil.

Quantas vezes já me imaginei quebrando a casa inteira? Não sei, mas foram muitas! - AMO minha casa, e ainda assim, teve um tempo em que até fogo quis atiar. Mas passou. Passa.

Nadar contra a corrente não só não é fácil, como pode ser ou parecer o mesmo que estar parado; e tem horas que dá muita vontade de largar tudo e se deixar levar, seja para onde for!

domingo, 18 de agosto de 2013

e agora?

Por mais que me sinta protegida e apoiada (não sei exatamente por quem), por mais que o mundo diga "Vá"... às vezes tenho medo de estar sendo cabeça dura, tenho receio de que o que em um momento me parece absolutamente viável, seja só mais uma ilusão. E se eu optar por um caminho que não existe? Quanto de fé será preciso para andar sem cair?

Tenho convicção de que o que quero não é muito, mas de tanto as pessoas dizerem que é, a suspeita de que pode ser delírio meu vem me assombrar: e se os outros estiverem certos?

Resisto a qualquer caminho que não seja o que quero, deixo a porta aberta, caso tenha que correr, mas, não quero entrar sem antes bater na que quero abrir. A falta de apoio físico, material, neste mundo, e com as coisas mais simples, destrói minha autoconfiança. Queria poder pagar para não depender da boa vontade alheia. Mas no momento não posso e... não sei o que fazer.

Não sei explicar por que é tão difícil pedir um favor, mas às vezes é - e muito!

E passo da felicidade e confiança plenas à mais pura tristeza, em meia dúzia de momentos...
o coração aperta, aperta, aperta.. mas passará.

***

"daqui desse momento, do meu olhar pra fora, o mundo é só miragem
quem vai virar o jogo, e transformar a perda, em nossa recompensa?

às vezes é um instante, a tarde faz silêncio, o vento sopra a meu favor

me traz o seu sossego, acalma minha pressa...

a lógica do vento, o caos do pensamento, a paz na solidão
a órbita do tempo, a pausa do retrato, a voz da intuição

o salto do desejo, o agora e o infinito"

domingo, 11 de agosto de 2013

Trégua a léguas - ou batalha astral final

Não queria sair de casa (meu campo extendido), mas fui, há algumas léguas, compartilhar com quem sempre posso contar.

Esqueci de levar minhas "pílulas mágicas", não dormi e meu estômago permaneceu, a maior parte do tempo, péssimo. Mas tirando esses detalhes, foi bom estar com a família, que sinto que me escolheu, mesmo com eu sendo como sou - um pouco diferente talvez.

Estive bem, mas há quantas léguas da minha "região livre"? Não sei.

Não sei se é paranóia, macumba ou só o fato de ter passado mais de 48horas sem a substância que me dá forças para encontrar ânimo para esta vida - ou que me dá ânimo para juntar as forças espalhadas ou perdidas pelos cantos. Mas sei que me senti em um campo de batalha.

Sentia que não resistiria, sentia que não aguentaria, que me esvainecia e me largaria. Busquei força por todos os lados, fiquei por um fio, quase que pó. Ainda não sei bem como resisti. Cheguei tão cansada. Esgotada.

Sinto falta do meu psicólogo que não vejo há mais de um mês, senti tanta falta do meu psiquiátra, que idem. Queria ter eles mais perto, assim como a calma e segurança que me passam. Quis estar com minha sobrinha, minha cunhada, meu irmão, meu ex-chefe, minha mãe, meus professores de dança... mentalizei a energia tão boa de todos eles e consegui recuperar o fôlego.

Cheguei em casa e meu gato estava desesperado por mim - como talvez eu estivesse pela casa, pelo meu canto, mesmo sem saber ou entender. Tirei a camisa branca que ganhei e usava pra poder dar colo ao meu preto, mas antes precisei me abrigar e tomar o remédio.

Dei carinho e ele acalmou. Fiquei na frente do computador uns minutos e senti que ele havia se aconchegado no sofá. Não precisava olhar para saber, tinha certeza que estava deitado em cima da camisa branca que ainda tinha minha energia, onde claro, segue dormindo aninhado.

Será que também acalmo? Acho que sim... Vou tentar domir, que se a dor não passa, ao menos não fica de pirraça. Quem sabe até se esquece, entretem... ou se perde dentre as outras perdas?

Que os meus amigos-anjos nesta terra estejam bem e recebam todas as retribuições que os demais possam lhes fazer chegar. Gratidão. Vou me recuperar e retomar a vida logo para assim poder estar mais com eles, e com todas as pessoas que me fazem esse bem inexplicável e indispensável.

É isso. Estou e vou.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Trégua relativa

Sabe quando nada muda, mas a sua sensação sobre as coisas muda?

Acho que, de repente, me dei conta de que estava me afogando no raso, e concluí que a pior das hipóteses ainda é boa. Mas concluí por mim, por me deixar sentir isso e não pela minha mente me acusando de ser ingrata e mimada.

Claro que, tem dias, ou melhor, momentos, em que me sinto mais confiante e em outros quero mesmo é largar tudo e sumir daqui, mas esse sumir deixou de ser querer morrer, e passou a ser querer viver onde há mais vida, em algum lugar bom deste mundo, onde a simples existência naquele lugar seja suficiente para querer viver. Confesso, penso no sul da Bahia...

Por outro lado, tem tanta coisa do passado que não deixo passar, que ainda me arrependo - e o pior é que são coisas bobas, mínimas, mas que não consigo me perdoar. Sempre sou mais complacente com os outros do que comigo mesma. Consigo me colocar no lugar deles, mas não consigo me colocar no meu (?), dá para entender?

Sinto falta do meu psicólogo... parei de ir porque me deixei chegar em uma situação financeira catastrófica. Não vejo a hora de voltar! Talvez agora aproveite para mudar de postura, de encarar como um tratamento, escolhendo o que tratar.

É que, indo só uma vez por semana, o assunto acaba sendo o momento, e raramente vamos às questões do passado. Lembro de algumas vezes em que estava bem ter acontecido, a ponto de ficar receosa quando estava bem.

Não entendo como as pessoas "normais" vivem sem um psicólogo bom - como o meu que não tenho dúvidas de que é o melhor!

Bom, no final das contas, sinto que houve uma trégua, e o mais difícil tem sido conviver com o vai e vem da minha auto-confiança. A maré não está de derrubar e virar o barco, mas ainda balança muito! De um jeito ou de outro, nos momentos de confiança dei alguns passinhos, e de passinho em passinho, posso chegar no palco... (medo) mas daí, não haverá outra saída: terei que atuar ou dançar!

Ainda fico desconfiada da falta de retorno dos amigos... me pergunto se acham que sou louca - um deles, diante meu conflito, disse que ninguém acha isso, pois todos tem certeza (!). Às vezes é de rir, às vezes de chorar, mas choro mais não. Sabe quando o vendaval bagunça mais ainda o que já estava bagunçado? Aprendi a dar risada! E vou me achando pelas veredas e caminhos...

terça-feira, 16 de julho de 2013

Maré brava

Dias dificeis... me sinto em um embate constante.
O que em um momento é claro, após o décimo balde de água fria, volta a ser turvo.

Não sei se sei explicar,
se estou no meio da tempestade e todos os lados parecem iguais.

"Mas, tão certo quanto o erro de ser barco
A motor e insistir em usar os remos,
É o mal que a água faz quando se afoga
E o salva-vidas não está lá porque não vemos."

Isso me é tão... familiar.
"Daniel na Cova dos Leões"... onde mais?


...

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Qual é a maior "loucura"?

Esta semana escrevi com todas as letras que não tenho mais a menor intenção de me suicidar. Tendo a acreditar que o pior já passou e o melhor está por vir. Mas, como nada nesta vida parece que pode ser fácil, voltei a desejar que algum bendito carro me atropelasse.

Alívio.

Que alívio seria. Não ter mais tantas idéias brilhantes que não tem para onde ir. Não ter mais espectativas sempre frustradas. Não ter mais que conviver com tanta coisa sem escrupulos que há por todos os lados. De não ter que conviver com a falta de ação de quem se acha tão certo.

Ouço pessoas dizerem "você é tão bonita e inteligente, como pode dizer ou pensar uma bobagem dessas?", que raiva me dá, como se isso mudasse algio. Não muda, tá? Na verdade só agrava, porque você ainda por cima se sente ainda mais culpado. É muito fácil dizer quando não é você que sente.

Não sei. Não sei como as pessoas podem viver com tantas coisas erradas neste mundo, com tantas coisas inaceitáveis e... e simplesmente não fazer nada. Ou fazer tão pouco e esse pouco ser suficiênte para viver bem. Não entendo. É isso que não entendo. Não quero ser conivente.

Tenho muito que fazer, sim. Há muita coisa que poderiamos mudar. Se os certos não fossem tão certos e os errados, tão errados, talvez fosse possivel fazer algo. Mas não é, não há meios. E onde há meios, não há gente, ou não há tempo, ou não há dinheiro.

Na verdade, estamos em um imenso labirinto, no qual temos com frequência a ilusão de que há alguma saída, mas não há.

Estamos perdidos na selva de pedras e não há mais nada que fazer, a não ser continuar andando, na esperança de se agarrar a uma nova ilusão que não nos deixe desistir. Is this. Only.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

entre metades

E de repente, a lucidez me faz ver. E enxergo que estou mais que complicada, tenho duas saídas: recuar ou avançar. Quero avançar, claro, mas para isso preciso de ajuda. E preciso acreditar. (...)

Devia estar animada, por ser capaz de encontrar saídas, mas hoje, um quarto de mim é tristeza, outro quarto é quase revolta, revolto. A outra metade... não sei se dorme ou se abstém. Só sei que parece mesmo não estar.

Meus quartos se neutralizam e fico no meio do meio do meio, sabendo que preciso ir, sendo nítido que para qualquer lado terei que nadar, mesmo sem saber como.

domingo, 7 de julho de 2013

Elena

Hoje fui ao cinema e assisti Elena. Foi algo que ainda é, e fica ecoando aqui dentro.

Difícil mesmo dizer mais no momento. Deixa muitas reflexões e uma confusão de sentimentos.


O filme, não lembrava, já me haviam comentado, é um documentário. Não é "baseado em fatos reais", mas real em si. Montado com gravações antigas e declarações mais recentes, mas repleto de uma beleza e riqueza de cores, imagens, sensações. Surpreende pela exposição, encanta pela beleza, e traz o tema à luz. Não há muito mais que dizer, pois fica o sentir, e um ecoar num lugar que não sei bem onde, lá no fundo. É como se as ondas do inconsciênte, como na beira da praia, invadissem o consciênte com suas águas salgadas, e puxassem para sí tudo o que fica por ali, naquela areia, aparentemente, tão igual.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Transtornada

Há dois dias tive consulta com o psiquiatra. Mantivemos a dosagem e ele pediu que voltasse dentro de dois meses!! Fiquei feliz. Claro que não por não ter que vê-lo, se pudesse pagar, ia querer ir toda semana! Mas sim, pelo que representa: pela primeira vez em um ano e meio, podemos considerar que estou... "estável", digamos assim.

Orgulhosa, em certo sentido, de não ter desistido.

E de repente, eu me sentia encantada por todos os detalhes mágicos da vida, e por todas as pessoas incríveis que de alguma forma me acompanham. Senti até conforto e confiança!

Conversando com minha mãe, resolvi procurar algo e... quem procura acha, ainda que não exatamente o que se procura.

Encontrei um texto que me descrevia tão absurdamente bem! Não sabia o fazer com aquilo.

Transtorno de Personalidade Obsessiva (anancástica)

Como se caracteriza?

Tendência ao perfeccionismo, comportamento rigoroso e disciplinado consigo e exigente com os outros. Emocionalmente frio. É uma pessoa formal, intelectualizada, detalhista. Essas pessoas tendem a ser devotadas ao trabalho em detrimento da família e amigos, com quem costuma ser reservado, dominador e inflexível. Dificilmente está satisfeito com seu próprio desempenho, achando que deve melhorar sempre mais. Seu perfeccionismo o faz uma pessoa indecisa e cheia de dúvidas.

Aspectos essenciais
  • O perfeccionismo pode atrapalhar no cumprimento das tarefas, porque muitas vezes o sujeito se detém nos detalhes enquanto atrasa o essencial.
  • Insistência em que as pessoas façam as coisas a seu modo ou querer fazer tudo por achar que os outros farão errado.
  • Excessiva devoção ao trabalho em detrimento das atividades de lazer.
  • Expressividade afetiva fria.
  • Comportamento rígido (não se acomoda ao comportamento dos outros) e insistência irracional (teimosia).
  • Excessivo apego a normas sociais em ocasiões de formalidade.
  • Relutância em desfazer-se de objetos por achar que serão úteis algum dia (mesmo sem valor sentimental)
  • Indecisão prejudicando seu próprio trabalho ou estudo.
  • Excessivamente consciencioso e escrupuloso em relação às normas sociais.
Achava graça de ter comentado coisas que só reforçavam a descrição (que foi escrita em 2008!), mesclada a certa vergonha, me perguntava se todas as pessoas tem algum transtorno, me perguntava se devia recusar ou aceitar... Recusar seria ridiculo, aceitar, seria reforçar. Aprender a "lidar com", seria o ideal, claro. Mas aprenderia? Não sou tão rigorosa e disciplinada assim!

Tudo bem. Tudo é superável.

Mas hoje... me superei no pior dos meus lados. Fui a pior das amigas. Fui fria como sei que não sou. Perguntei e não soube ouvir, atropelei quem está sempre pronto para me dar a mão. E o pior de tudo: não foi a primeira vez. Às vezes acho que deviam me manter isolada da sociedade. Quero que respeitem a minha dor, e não sei respeitar a dor do outro. Sentindo vergonha de mim, como poucas vezes na vida. Não sei o que fazer. Queria nunca mais machucar alguém. Como posso não ter aprendido isso ainda? Triste demais. Sem mais.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Aquela última perícia

Hoje finalmente passei pela última perícia. Devia estar feliz, queria tanto me livrar desse martírio e voltar a trabalhar, mas... de repente, bate uma insegurança. E agora? Tantas coisas para arrumar ainda! De repente bate um medo, um receio. E entre tantas coisas para fazer, entre tantos motivos para ficar feliz, tudo o que quero, é poder seguir dormindo. Fazer o que? Vou dormir de novo na esperança de acordar mais animada amanhã!

quarta-feira, 12 de junho de 2013

É de graça!

Se nem eu me entendo, se nem eu me aguento, como posso querer que os outros me aguentem? Chega fico com dó da minha mãe que arranjou uma boa desculpa para passar uns dias comigo. Não sei, não sei o que acontece comigo. O mau humor aqui é de graça mesmo.

Por um lado, decidir voltar a trabalhar é tudo que eu precisava, por outro lado, de repente me vejo tendo que resolver tudo que deixei para depois por um ano e meio, em uma semana e meia. Estou me esforçando, mas tem umas coisas que não tem explicação!

Por exemplo? Resolvi aproveitar o mau humor para cancelar a assinatura de três revistas que eu sequer abro, mas depois de um ano protelando, literalmente pagando para não ter que brigar, fui capaz de ligar para a editora Abril para cancelar as revistas da editora Globo (!!!)!

Pelo menos consegui organizar os relatórios e receitas médicas dos últimos meses. Mas mudei o horário da aula de dança, por conta da terapia, e depois o horário da terapia por conta da perícia que... na verdade, era de manhã e não de tarde! E a esperança de ter sobrevivido à última perícia foi adiada para sexta.

Ao menos, me dei conta do equivoco antes de sair, mas fui remarcar hoje porque supostamente tinha ficado de ver uma AP com uma amiga. Efetivamente? Ela disse ter marcado para amanhã, mas também não tinha certeza.

Aproveitei a viagem para tentar falar com duas pessoas que gosto demais, mas uma, depois de uma hora de espera, decidi ver outro dia, a outra, ao menos respondeu a mensagem dizendo que hoje não podia. 

Por sorte consegui falar com quem não pretendia, mas não foi suficiente para vencer o mau humor somado ao mal estar gerado por um ônibus lotado em dia de chuva na cidade de São Paulo.

São “N” boas possibilidades: de futuras casas, futuros trabalhos, futuros namoros, talvez, mas nada, nadinha, se concretiza. É muita frustração para pouco tamanho, sabe? O que querem me dizer? Sou eu que faço tudo errado sempre? Tento lidar bem com as incertezas, mas às vezes são tantas!

Sinto que tento me manter surfando entre essas ondas, mas são tantas! Queria tanto poder descansar... Dizem que depois da tempestade vem a calmaria, mas, algo me diz que a tempestade mal começou.

Aliás, a chuva voltou, e não sei porque, mas me alivia... ´: j

segunda-feira, 3 de junho de 2013

TV ou Rivotril?

Passei o dia chorando, me perguntando, afinal de contas "o que é que Deus quer de mim?". Procuro o lado bom de tudo que me acontece (e principalmente no que não acontece).

Mas um ano e meio depois, com a vida toda em stand by, quando finalmente acho que encontrei o remédio certo e vou poder retomar a vida, as coisas simplesmente não dão certo. Não entendo o porquê, e não convivo bem com o fato de não entender. E não posso, não consigo me conformar.

Resolvi assistir TV para distrair, no lugar de apelar para o rivotril e me apagar... é fato que não sei lidar com o não. Apago a TV consciente de que perdi algumas horas da minha vida já tão desperdiçada, mas agora, carrego também a dor de cabeça. Que já não sei se é da luz das telas, ou se é da culpa.

Culpa de me dar conta de que estou chorando por algo que, por mais frustrante que seja, é 'resolvível'. Há dois anos chorava por algo que não sabia se algum dia poderia se recuperar. Agora já sei. O que mais temi na vida, foi embora. E o resto, é só o resto, não devia ter tanta importancia.

Mas ainda fico triste, e às vezes, muito triste. Ainda mais quando penso que não sou só eu. A gente diz que "Deus sabe o que faz, a gente não", mas hoje, penso que, se a gente não sabe, quem dirá Deus!

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Dia especial

Hoje foi um dia raro: desses em que as coisas boas coincidem no dia da agenda, mas, incrivelmente, não no mesmo horário!

De manhã fui ao meu psiquiatra, como gosto dele! É dessas pessoas que não tem como não gostar!
Adorei a indignação dele quando contei da opinião do perito sobre o psicólogo (que eu não podia ficar dependente dele, tinha que saber tomar minhas próprias decisões e andar com minhas próprias pernas(!)). Poucas coisas são tão deprimentes quanto essas perícias... mas a terça de hoje compensou a segunda passada.

Às vezes acho que falo demais, mas é que a gente só se vê uma vez por mês... e tudo está relacionado ao que tratamos. Acho que o bom psiquiatra é o que consegue se aproximar exatamente do seu oposto: o homeopata (no sentido de que analisa o todo em seu conjunto e não as partes isoladamente).

No meu caso, estou com anemia e hipotireoidismo, ambos leves, mas ambos reforçam os sintomas da depressão, que são justamente a maior barreira para sair dela! Mas não é só o físico que conta, tem também a questão emocional, relacional, etc e tal. Que não estão lá muito boas, mas hão de melhorar.

Mas ao menos, depois de me dar conta de que fazia mais de 12 meses que meu psiquiatra perguntava se eu tinha voltado a dançar, e eu respondia: “esse mês vou voltar”... tomei vergonha na cara e fiz uma das melhores coisas dos últimos tempos: contratei um professor particular - e é um investimento sem igual! Começo da tarde era o horário dele e... como me sinto bem dançando! E melhor ainda, junto aprendendo, melhorando, aperfeiçoando... é muito, muito bom!

Final da tarde, era hora do meu psicólogo. Achei que seria um desperdício ir para lá estando tão bem. Mas que nada, tinha muita coisa incomodando dentro do peito, chorei um monte, mas saí me sentindo muitíssimo melhor - e muito mais leve!

Para completar o dia, só faltou ir ao centro cardessista. Era dia, mas com a chuva, acabei não resistindo. Vim para casa, resolvi pacificamente o que precisava resolver, e fiquei me sentindo, estranhamente, tão bem!

Essa sensação acho que vem muito do se sentir bem cuidada e bem amada. Gratidão a cada ser que colabora para que seja ela exatamente como é!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Da minha dor


“Ouça um bom conselho, inútil dormir que a dor não passa.” Chico Buarque

Acho que faltou dizer de onde vem esse cansaço que não nos deixa. Que dá sono, dá indisposição, dá preguiça, e resulta em tanta procrastinação. Dá tantos “não quero”, “não tenho vontade”, “não me sinto bem”, “prefiro ficar em casa”. Não é nada pessoal, só é muita gente, é muito barulho... está tudo bem, só quero ficar quieta no meu canto.

Não posso argumentar que estou cansada se não trabalho, mas estou. E é um cansaço da vida inteira! Sabe quando você come demais algo que depois não consegue nem olhar, nem pensar em comer mais? É mais ou menos assim.

Não sei como foi que isso se deu, mas fato é que por algum motivo, as dores de todos os tempos resolveram fazer um congresso e se encontrar. A maioria delas foi profunda, mas passageira. Aparentemente superada. Mas, às vezes me pego pensando em coisas que me doeram tanto, tanto! Engoli a dor, mas parece que não desceu.  Enroscou numa das curvas que abastece o coração, pois ali já havia algumas, e não demorou muito para chegarem tantas outras, tão gigantes, que empurraram todas as outras direto para o coração. Algumas se dispersaram, outras se mantiveram unidas e aos poucos foram diminuindo, mas não posso distrair que logo aparece alguma que estava perdida reivindicando atenção. Queria tanto que algumas delas nunca tivessem existido.

Estou tentando colocar ordem nessa casa, mas não está fácil. Não encontro ao quê me apegar, se tudo que parecia verdadeiro, foi diluído em meio ao falso. E tem que tomar, assim mesmo, tudo junto, que é para criar imunidade.

Mas, não quero, ainda dói , mas não quero tomar esse veneno! Já dói menos, apesar de que, se respiro um pouco mais fundo sinto que ela ali segue.

Ninguém, ninguém pode saber o tamanho da minha dor. Porque ninguém viveu as frustrações, a desilusão, a desconfiança, a desesperança... que eu vivi. Cada um tem a sua. Tentei minimizar a minha, mas de repente ela cresceu, e tomou conta de tudo!

Estou tão cansada. Não quero. Não quero ver mais nada, não quero ter que conversar, não quero ter que explicar. Só quero ficar quieta no meu canto, poder juntar os pedaços do que restou, e ver o que é possível fazer com eles.

Só me deixe só. Não vou quebrar tudo. Ao menos ainda não, porque não sei ainda o que é que quero tanto quebrar. O que quero quebrar, é real, mas não é físico. É forte, às vezes me derruba, mas é intangível.

Sei que é inútil dormir, que a dor não passa, mas ao menos descanso um pouco dela, ainda que muitas vezes me acompanhe nos sonhos... Até nos sonhos! Mas logo deixará de ser esse troço atravessado no peito. Ainda não sei como, mas vou achar um jeito!

Dou risada da crueldade do Chico cada vez que ouço a música. Sei que é inútil, mas não planejo dormir muito, simplesmente durmo. 

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Do porquê dormimos tanto


Como uma pessoa pode passar mais tempo dormindo que acordada? É realmente difícil de entender, mas tento explicar.

Não se trata de não ter mais o que fazer, pois quando não há vontade de se fazer nada, o primeiro que se deixa para depois, são as coisas não obrigatórias, que só dependem de nós e só nós seremos afetados. Por exemplo? Pagar por uma assinatura cara que não tem sentido nem vantagem, mas que o cancelamento sempre fica para depois porque não há disposição para esse desgaste extra.

Já não durmo tanto, mas cheguei a dormir 16 horas por dia há alguns meses. Os motivos do sono, elencaria da seguinte forma:

1 - De fato nos sentimos cansados. Dormimos para descansar, mas é um cansaço que parece não acabar nunca!

2 - Tentamos a sorte. A tristeza e alegria (ou pequeno pico de disposição e otimismo), não tem nada que ver com a razão. Às vezes temos motivos para ficar felizes e seguimos tristes. Noutras temos motivo de sobra para ficar tristes, mas damos risada. E como isso é imprevisível, acontece de acordarmos muito bem ou muito mal - sem a menos explicação! Daí, mesmo sem saber, tentamos a sorte: dormimos de novo, para quem sabe, dentro de algumas horas, acontecer esse mistério de despertar conosco uma vontade, qualquer que seja.

3 - Os remédios. Alguns antidepressivos tem como efeito colateral o sono excessivo. Não deveria acontecer, mas acontece. Com uns mais e com outros menos, mas com os ansiolíticos, sempre. E tomamos eles para contra-balançar no caso do antidepressivo gerar uma eletricidade incompatível com nosso estado (o que gera um imenso mal estar), ou quando qualquer outra coisa nos deixa em um grau de ansiedade difícil de controlar.

Comigo, outro fator que não sei se é comum às demais pessoas, é acordar cansada pelo estresse gerado pelos sonhos - quase sempre desgastantes e envolvendo tensão, conflito, revolta pela impotência e até perigo. Mas ao menos, quando lembro o que acontecia no sonho, fica mais fácil entender o porquê de determinado humor e agir para combatê-lo se não for bom.

Hoje acordei um pouco triste, meio desacorçoada, não sei se pelo que sonhava, pelo acordar tarde com tantas coisas para fazer, ou pelo quê; mas não acho justificativa para meu estado. Só é o que é. E adivinhem? Quero aproveitar o frio para voltar a dormir e ver se acordo melhor!

terça-feira, 21 de maio de 2013

Perícia perversa

Caí justamente com o períto que estava rezando para não pegar. Acho que foi com o primeiro que passei a mais de um ano, e que ficou querendo dar liçãozinha de moral.

Hoje cheguei a conclusão que o índividuo em questão só pode ser sádico. Fiquei uma meia hora contando o que já contei mil vezes, sendo que como cada vez estou há mais tempo  de licença, acabo resumindo muito tudo.

Por outro lado, ele não queria ouvir, pois quando tentava contar as coisas ou me interrompia ou fazia cara de "ok, já sei, resuma". Que raiva, acho que a tática dele era essa, me provocar para ver se eu reagia, e não tive como não reagir quando disse que eu não podia ficar dependente do psicólogo, que já tinha que tomar minhas decisões e andar com minhas próprias pernas.

Ele conseguiu. Como era absurdo! Devia ter aproveitado e dado uma de louca, falado um monte. Interessante é que, para esses seres, ficar dependento do remédio não tem problema, mas da terapia... deu a entender que 3 anos era muito. Como pode alguém tão despreparado e tão insensível trabalhar de perito? É tudo tão... humilhante e desrespeitosio! E ele ainda fez questão de ficar cutucando a ferida!

Que raiva! No final das contas, me concedeu a licença, mas só até hoje, ou seja, por ele volto a trabalhar amanhã mesmo. E esses pequenos poderesm, nos vão matando aos poucos. Que tristeza maior?

Mas deixa estar, deixa estar.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Dia de perícia

Consegui fugir da realidade por uns quase 5 dias! Nada como não ter tempo para pensar no que nos aflige. Mas sei que não adianta, que a realidade não muda. Uns dias, é certo, é preciso. Mas no mais, se deixar passar, deixando para depois e depois, a coisa só desanda!

São tantas coisas que fui deixando para depois... e que fui perdendo. Se dá para salvar algo? Claro que dá! A questão é: por onde começar? ...com tantas coisas voando pelo espaço: exames, casa, papéis. Enfim, o mesmo que nos meses anteriores, só que agora já elevado a... a vigésima segunda potência, provavelmente.

Mas a questão é que hoje é dia de perícia. É nisso que minha vida se divide atualmente, no antes e depois da próxima perícia, o que na verdade, não muda muito (o antes e depois) como já tive tantas vezes a crença leviana e, algumas vezes, até algo que beirava a espectativa de que tudo seria diferente.

Hoje é dia de se submeter à sorte e sair se sentindo aliviado ou desesperado, por um lado, e igual, pior, ou muito pior, por outro - a depender do humor e "receptividade" do médico perito. Ainda preferia ter que tomar benzetacil de 21 em 21 dias, mas...

A gente cresce e os desafios também crescem. Mas a gente pode com eles, sabe que pode. Só não acha onde é que foi parar esse "poder" e, enquanto isso, segue se agarrando ao "esperar" da nossa esperança, que cansa, como cansa, mas não dança!

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Férias da realidade - será que é possível?

Um ano e três meses e meio depois... ainda quero férias da realidade! Aprendi a dar risada de mim mesma, da sem-vergonhice, das trapalhadas, dos tropeços e tantas tentativas e esperaças de recomeço. Digo dando risada que quando acordei já era noite, ou então, que só consegui levantar porque o interfone ou telefone tocou por engano,  mas não, certamente, não me orgulho, muito menos acho bonito, só não me culpo mais, pois percebi que quando além de acordar tarde, carregava o peso da culpa, tudo era muito mais difícil.

Não vejo a hora de voltar a ter a tranquilidade de estar trabalhando e não ter tempo de saber das noticias do mundo, e já com essa tranquilidade, ter a de assistir um filme e mergulhar em outra história de vida, e sim, se possível, ter também a tranquilidade de que o calor não virá só das cobertas, e de que, independente de que emoções trará o filme, haverá quem abraçar e, indepentende de que emoções trará a vida, haverá com quem contar e com quem dividir, compartilhar, multiplicar...

Mas a realidade... essa me desencoraja! Não consigo entender, não me desce, não me conformo, me entritesse - profundamente. Não preciso dar nenhum exemplo exdruxulo, pois parece que é só o que há nos últimos dias. E também não quero fica pensado, e muito menos escrevendo, sobre essas coisas. Por outro lado, chega a ser irônico, enquanto tentamos nos fazer creer de que existe um lado maravilhoso da vida a ser aproveitado (dividido, compartilhado e multiplicado), de pano de fundo anunciam as últimas atrocidades.

Isso me lembra uma cena do filme Madagascar em que, ao som da famosa "what a wonderfull world" os "protagonistas" conseguem salvar um patinho e... ´: |



Reconheço que não é assim o melhor vídeo para se compartilhar, mas, enfim, é a tal da realidade, que uma hora vamos ter que encarar, pois não vai mudar enquanto nos mantemos "a salvo". O mundo é maravilhoso sim, mas também cruel - e o pior: na maioria das vezes não é por mal, é questão de sobrevivência.

Não lembrava da parte do Leão se auto isolando por ter perdido a mão, mas quando vi, não tive como não me ver ali, esmagada entre a culpa e a punição das tantas vezes que peguei pesado e me dei conta quando já era tarde!

Precisa sim um tempo de reflexão e avaliação, outro de meditação (pra ajudar a fortalecer o tal do auto controle - que nas horas que a gente mais precisa, desaparece!), e claro, outro de ação, seja pedindo desculpas, seja reconhecendo seus atos, ou mesmo agindo diferente.

Encarar as dificuldades, aceitar as desavenças e resolver os recalques - sem achar que é fácil, e sem pretender ser "a pessoa mais bem resolvida do mundo" - pode ser a melhor forma de tomar rédea da vida e fazê-la muitíssimo melhor, para si, e para os que no fundo sabemos que estão por perto e que atenderiam ao primeiro, talvez segundo, chamado, se hora o orgulho, hora a síndrome de inferioridade, não nos imobilizasse.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Dedicatória

Este blog não é para gente normal. É específica e especialmente para pessoas que pensam demais, que sentem demais, que às vezes choram demais e, outras, não conseguem chorar, que às vezes dormem demais, mas muitas vezes não conseguem dormir, que sofrem sem saber o porquê, ou sabendo, não se conformam. É para a gente que sabe que não quer continuar como está, que quer viver de verdade, ou então morrer de uma vez! Mas que... na dúvida, entre a incerteza e a esperança, espera mais um pouco, porque já não tem certeza se o que sente, pensa e quer, é o que de veras sente, pensa e quer. Porque acredita que amanhã será diferente, ainda que ontem seja tão igual a hoje quanto a anteontem. Pessoas que não entendem porque tem que continuar, mas sabem, sem saber como, que há um porquê; ainda que não se reconheçam hoje, sabem que há mais para se viver, e que pode ser difícil, mas também pode vir a ser muito bom. É para essas pessoas instáveis que caem em contradição por transparecerem sua convicção a ambos os lados, por serem capazes de entender ambos os lados, ainda que, ou por isso mesmo, prefiram permanecer em cima do muro, onde não se pode fazer muito, mas se pode ver tudo, ou quase tudo. Para essas pessoas supostamente loucas, porque recusaram se submeter a uma vida sem sentido. É para elas, e para os que não sabem não amá-las, independente de como sejam ou estejam, independente de que lado extremado estejam, independente do que pensam e do que fazem - ou deixam de fazer - mesmo saibendo que precisam, ainda que amanhã com certeza, mesmo que talvez. É para essa gente, que é humana acima de tudo!

sábado, 4 de maio de 2013

De noite e de dia, chovia.


Chovia muito, parou um pouco, abriu o tempo, o sol sorriu, brilhou forte, e a água evaporou. Veio uma nuvem negra que foi giganteando, e a tempestade caiu. Choveu tanto, tanto! Mas logo a chuva se foi. Só ficou a ressaca: as coisas que o vento fez subir aos céus não sabiam para onde voltar. Voavam feito fossem pássaros, enquanto os pássaros sem suas escassas árvores, cobriam os telhados. Não sabia se tudo era de fato maior que não cabia de onde vinha, ou se tudo era realmente tão pequeno que não se podia decidir qual buraco, entre tantos, tampar. Por isso, as coisas ficaram no ar. Aos poucos foram se acomodando e reencontrando, mas nada voltaria a ser como era. A tempestade passada, ficou a melancolia – que fez par com a esperança. Esperamos. Nuns dias ventava, noutros chovia, em alguns dias o sol abria. Mas logo, de novo, chovia, e chovia, e chovia. Uma chuva dessas de dia de finados, que por vários dias vai se prolongando, prolongando... e não finda nunca. Chuva boa para ficar deitado ouvindo o barulho da chuva, curtindo o amor das cobertas e da possessiva cama... Sei que não devia, mas não era capaz de manter o controle e logo me entregava novamente a esse amor doentio. Os sonhos eram mais agitados que a vida real, talvez também por isso, dormia mais do que ficava acordada, mas... mas é que chovia. Sei que não devia, mas, mesmo quando não chovia, o sono era absolutamente real. Real. Se pudesse escolher, optaria por los dolores de la vida, pelo peso da vida, ou pela vida real? Hã? Não sei. Só sei que chovia. E gosto, gosto muito da chuva, mesmo que seja chuvisco, garoa, sereno. Resolvi então levantar e chegar mais perto. Não resisti: abri os braços, olhei para cima, fechei os olhos, senti a chuva que me lavava a alma, numa mistura de dor, alívio e prazer. Mas, quando olhei para baixo, vi que o que corria ladeira abaixo não era água, era leite. O leite, aquele que alimenta, derramado, se esvaia. Eu olhava, não acreditava. Doía, mas eu sorria. Não o beberia, mas ao menos, agora acordada, banhada de leite, ou, ao leite, seguiria. 

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Foi o meu dia!

Hoje no meu país é feriado: o dia 1º de maio, como em muitos outros lugares, é o dia do trabalhador.

E hoje o dia foi completamente diferente aos últimos. Fiz o que fiz a minha vida toda: não parei um minuto. Agora começo a entender o porquê. O tema é delicado: sempre gostei de trabalhar, talvez, até, além da conta. Certamente é do que mais sinto falta, cada vez mais. Afinal, não parar é a melhor forma de não pensar no assunto, não encarar a realidade, não sofrer de novo. Paliativo, claro, mas eficaz.

A última vez que falei com minha mãe, chorei. ...como quando era criança. Perguntei a ela: 'porque eu chorava quando você me mandava dormir'. Ela sorriu enquanto o olhar foi lá ver a cena que se repetia há cerca de 20 anos, voltou o olhar para mim, mas como se continuasse me vendo pequena: "porque querías seguir trabajando".

Mas hoje fiquei feliz com o dia atípico. Levantei só porque tocaram o interfone, minha amiga atendeu e, pelo nome, levei um susto, lavei o rosto às pressas e fui atender, estranhando a visita sem aviso prévio. A visita, apesar do nome anunciado, era para o vizinho. Ironía do destino, não por coincidência, o rapaz tocou errado. Pode parecer absurdo, mas às vezes tenho a impressão que o universo faz de um tudo para conseguir me acordar!

Deu certo. E quero muito continuar nessa direção! - ou seja, daqui para melhor!

Até consegui sair, dançar, me animar e responder todos os "porque você sumiu?" - sem entrar em muitos detalhes - apesar de minha desculpa (o atraso na entrega da dissertação), só ter explicação plausível pelos efeitos da última medicação, talvez somados a uma real e absoluta queda de ânimo e interesse.

A entrada de maio, no entanto, me anima: sinto que finalmente estou próxima de sair do meu buraco - que parece que a cada dia mais me puxa, me quer e me prende. Eu entendo. Também não ia querer que eu fosse embora (o problema de melhorar é que vou ao outro extremo como é fácil constatar), mas, não adianta, porque me prender, só vai aumentar a minha vontade de me libertar - e é só tudo o que eu preciso: ser capaz de acessar novamente a minha força de vontade - que definitivamente não sei aonde foi parar!

Mas tudo bem, estamos indo. Tudo a seu tempo, fazer o quê? Hoje passo para 3 comprimidos da nova medicação, e até agora, felizmente, estamos indo bem. O excesso de sono, ainda é grande, provavelmente porque ainda tenha fluoxetina no sangue, mas logo chegarei a minha meta: metade da média que dormi no último mês.

Confesso que quase desisti dos medicamentos, mas estava tão fragilizada que não tive forças nem para manter minha suposta decisão - sabe quando você fecha a porta, mas não bate? Fiquei olhando pela fresta, (afinal, é uma relação de mais de um ano), e foi por ela que ele me passou a receita para o novo medicamento, indicado para uma tal "depressão refratária". A filha da mãe ganhou sobrenome, e não é fraco não. Mas deixa estar, estou bastante inclinada a acreditar que achamos o remédio certo, e, a hora que eu puder mergulhar de volta ao meu mar de sonhos, projetos e trabalhos, ninguém me segura: refratária serei eu!

segunda-feira, 29 de abril de 2013

estrelas da megalópole



Moro em uma megalópole e, entre as estrelas que aqui vivem, ocorre algo previsível e preocupante.

Moro onde, há muito, megalomaníacos faziam de tudo para ter mais dinheiro e poder, transformando suas competições e loucos delírios na mais insana e caótica realidade.

Moro em uma metropole, onde grandes estrelas parecem minúsculas e onde estrelas de todos os tamanhos estão se apagando e deixando de brilhar.

Meu país tem 13 milhões de estrelas tristes, e destas, um terço vive na megacidade onde moro.

Mais de quatro milhões de estrelas perdem suas luas aqui, porque a energia que tinham caiu tanto que se sentem monofásicas, e assim, não podem mais ver a luz refletida em suas ações.

Mais de quatro milhões tentam seguir “adiante”, sem saber onde essa via vai dar, sem saber como dela sair, e, menos ainda, como é que aqui se permanecerá.

Muitas das minhas visinhas tomam as “pílulas mágicas” e seguem fazendo tudo igual, evitando pensar quê sentido faz, se é que faz.

Muitas outras, no entanto, com ou sem as pílulas, preferem parar para tentar entender e procurar uma saída ou outra via.

Mas, se por um lado, sair do turbilhão é bom, por outro, se sempre vivemos nele, viver fora dele... é possível? Como faz?

Daqui, não me parece haver espaço para tantas estrelas juntas, por isso prefiro não arriscar - pois sei que fuigiria, me afinando até virar só um fio de luz, mesmo sabendo do desgaste que geraria ao corpo.

Mas daqui, também achava que a saída era real e estava próxima. Agora, já não sei mais o quanto da possibilidade de voltar a brilhar é ilusão, desejo ou miragem.

Mas sei que o poço, na verdade, não tem fundo. Ele vai e continua sendo infinitamente, até dar no imenso espaço, onde nos encontramos com tudo o que criamos.

Milhares de peças que podemos ficar analisando infinitamente, sem saber se são reais ou imaginárias, sempre tentando agarrá-las para construirmos a escada de volta - bem bonita!

É por isso que uma estrela inativa pode virar um buraco negro: porque nosso inconsciente é como o espaço sideral. É bom olhar, conhecer, tentar entender, mas sem nunca se soltar do real.

Na megalópole, há de tudo: os que querem nos vender a luz, os que ganham sem saber que existimos, os que pensam que se deixarmos de existir poderão brilhar mais, os que têm certeza que é expertise pura, e, claro, os que não se atrevem a dialogar para não contrariar - já que é certo que enlouquecemos (porque preferimos dar passagem a quem não sabe frear).

Mas minha megalópole também tem tudo quanto é tipo de artista! E eles sabem conversar, transformar, dividir, fazer caber, recriar, provocar, mudar... e sabem que o que faz brilhar não é o figurino, nem a lantejoula, mas sim a essência do ser humano, estrela por natureza.

domingo, 28 de abril de 2013


"Meu barraco é no pico mais alto do morro, e daqui dá pra ver um acontecimento raro na história do universo.
É o fenômeno natural da cidade de São Paulo, onde as estrelas deixam de brilhar no céu e passam a cintilar do chão.
Inda assim continuo achando que cada estrela é uma pessoa que amo olhando por mim".


Paula da Paz








foto: João Claudio de Sena