quinta-feira, 27 de março de 2014

Quem mais?

hoje foi um desses dias que parece que está tudo bem, até eu chegar no consultório e começar a chorar, deixando transbordar o desespero disfarçado de qualquer coisa que te deixa sem expressão, que se disfarça em uma conversa sobre qualquer coisa que já se saiba.

desesperada, querendo estabelecer metas para sair da areia movediça... com medo de dar tudo errado, mesmo com uma estatística invejavel de que "no final das contas, acaba dando tudo surpreendentemente certo" (!). e às vezes o "milágrimas se dá" antes mesmo de chegar a mil, o milagre que já estava ali se faz perceber, assim sem explicação lógica - ao menos não uma que não resultasse em uma tese de doutorado.

e vez ou outra me pego pensando em algum diálogo com meu psicólogo... e no quanto é certeiro em suas perguntas e comentários. chego a ficar deslumbranda! mas porque é simplesmente perfeito! é como um jogo de sinuca em que você pode colocar a bola em qualquer lado que o sujeito encaçapa, sabe?

é incrível a dosagem perfeita que consegue entre a compreensão, o acolhimento e a firmeza, com bom humor e uma pitadinha de sarcasmo! e tudo parece mais claro ou menos nebuloso, às vezes chegando a parecer absurdo de tão óbvio.

preciso escrever mais sobre esses diálogos, são cinco anos e, apesar de às vezes ter a impressão de que me repito nos erros, não sinto que ele se repita, pelo contrário, sempre me engrandece a visão! e me apareceu essa música hoje, que nunca tinha ouvido. a pergunta depois de ouvir, só podia ser: quem mais?



"Eu bebia da vida em goles pequenos
Tropeçava no riso abraçava venenos
De costas voltadas não se vê o futuro
Nem o rumo da bala nem a falha no muro
E alguém me gritava com voz de profeta
Que o caminho se faz entre o alvo e a seta

Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
Quem me diz onde é a estrada
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me leva os meus fantasmas
Quem me salva desta espada
E me diz onde é a estrada"

(Pedro Abrunhosa interpretado por Maria Bethânia)

Sem dúvida é ele que me leva os fantasmas e muito mais! Imensa e Plena Gratidão - sempre! <3

sexta-feira, 14 de março de 2014

E o remédio acabou - que desespero!

Da última vez que fiquei sem remédio, por dois dias, passei quase uma semana chorando. Chorei tudo que não havia chorado no ano! Dizia ao meu psicólogo que eu tinha tudo para estar feliz e não sabia por que não estava.

Conversando com meu psiquiatra, disse a ele que foi bom para eu descobrir porque não posso parar o remédio (o que eu sempre quis!), mas ele afirmou que eu não ficaria daquele jeito, foi só porque baixei de 100mg para zero, muito rápido.

Decidi que sempre teria uma cartela de reserva, mas adivinhem? Vi que estava para acabar, mas sem ter a menor situação financeira de pagar uma consulta este mês (por mais que agora sejam só de 3 em 3), ontem finalmente tomei coragem e escrevi para ele perguntando se poderia deixar uma receita – podia conseguir com minha médica, mas achei que cabia ser sincera, afinal, já é um relacionamento de mais de dois anos!

Ele não respondeu ontem. Fiquei insegura, com receio de ter abusado. E empurrei por mais um dia. Hoje ele respondeu que “Ok, sem problemas” – que alívio!

Mas me enrolei no trabalho e resolvi ir só de noite quando o transito já houvesse baixado. Cheguei pouco antes das 21h, a receita não estava lá, mas ele estava terminando de atender. Que alívio! E ele sempre gentil, tranquilo, educado...

Só que segui aflita porque estava com o coração apertado, me perguntando por que as coisas não dão certo e não dava mais tempo de pegar o remédio no posto de saúde gratuitamente. Por mais que ele tenha dito que podia tomar só no dia seguinte, como já estava há uns três dias tomando apenas 3 comprimidos, resolvi comprar de uma vez, mesmo sem estar podendo.

Ainda assim, a dor e o incômodo não passaram. Passei na padaria e comprei um pedaço de bolo! Tem horas que um doce é tudo! Ajudou muito, mas só fui melhorar quando minha requisitada a acolher uma senhorinha de 92 anos, moradora no nono andar de um prédio que estava sem energia. Definitivamente, me sinto muito melhor sendo útil e tendo a quem cuidar!

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

agradeço da medida na dor

agradeço, sim sinhô
de me indicar, sinalizar
e vez ou outra empurrar
mesmo que seja pela dor
que eu sei que é só pavor
deu não enxergar
e de novo me desaprumar.

agradeço da medida na dor
que faz desanimar, mas não desabilitar
que faz temer, mas não se arrepender
que faz turvar, mas jamais cegar.

que faz um alvoroço silencioso
que faz parar a respiração
mas não o coração.

que me obriga a revirar, resguardar e recuperar
recuperar, renascer e reviver.

sempre mais, mesmo sem-querer.
sempre em frente, mesmo sem saber.

agradeço, sim sinhô
de não desistir
de me fazer entender
sem me fazer desistir.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

in

meu coração está estranho
sinto ele miudinho, miudinho

cansada, deito mais cedo, mas não consigo dormir
é coisa rara eu não dormir...

deitada, sinto que seco por dentro
e se penso é água que corre dos olhos, feito uma fonte sem fim

não quero, não quero remédio, não quero pensar, não quero sentir
deus, me tira daqui, me deixa dormir!

...

algo falta, e falta tanto
falta por todos os lados... e falta tanto!
,

coração, sei que a solidão cansa
sei que o silêncio sufoca

mas guenta só mais um pouco, por favor
só me deixa dormir hoje

e amanhã...
tomamos sorvete, comemos chocolate
mas rivotril hoje, não.

...

chorar mais é chantagem emocional, sabia?
só duas gotas?
só hoje?
tá certo, depois de tanto tempo, não é o fim do mundo

dorme bem, coração, que amanhã vai ser outro dia!