sábado, 4 de maio de 2013

De noite e de dia, chovia.


Chovia muito, parou um pouco, abriu o tempo, o sol sorriu, brilhou forte, e a água evaporou. Veio uma nuvem negra que foi giganteando, e a tempestade caiu. Choveu tanto, tanto! Mas logo a chuva se foi. Só ficou a ressaca: as coisas que o vento fez subir aos céus não sabiam para onde voltar. Voavam feito fossem pássaros, enquanto os pássaros sem suas escassas árvores, cobriam os telhados. Não sabia se tudo era de fato maior que não cabia de onde vinha, ou se tudo era realmente tão pequeno que não se podia decidir qual buraco, entre tantos, tampar. Por isso, as coisas ficaram no ar. Aos poucos foram se acomodando e reencontrando, mas nada voltaria a ser como era. A tempestade passada, ficou a melancolia – que fez par com a esperança. Esperamos. Nuns dias ventava, noutros chovia, em alguns dias o sol abria. Mas logo, de novo, chovia, e chovia, e chovia. Uma chuva dessas de dia de finados, que por vários dias vai se prolongando, prolongando... e não finda nunca. Chuva boa para ficar deitado ouvindo o barulho da chuva, curtindo o amor das cobertas e da possessiva cama... Sei que não devia, mas não era capaz de manter o controle e logo me entregava novamente a esse amor doentio. Os sonhos eram mais agitados que a vida real, talvez também por isso, dormia mais do que ficava acordada, mas... mas é que chovia. Sei que não devia, mas, mesmo quando não chovia, o sono era absolutamente real. Real. Se pudesse escolher, optaria por los dolores de la vida, pelo peso da vida, ou pela vida real? Hã? Não sei. Só sei que chovia. E gosto, gosto muito da chuva, mesmo que seja chuvisco, garoa, sereno. Resolvi então levantar e chegar mais perto. Não resisti: abri os braços, olhei para cima, fechei os olhos, senti a chuva que me lavava a alma, numa mistura de dor, alívio e prazer. Mas, quando olhei para baixo, vi que o que corria ladeira abaixo não era água, era leite. O leite, aquele que alimenta, derramado, se esvaia. Eu olhava, não acreditava. Doía, mas eu sorria. Não o beberia, mas ao menos, agora acordada, banhada de leite, ou, ao leite, seguiria. 

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