terça-feira, 3 de janeiro de 2017

Exaustos e correndo...

Esses dias li texto da coluna da repórter Eliane Brum no El País que me pareceu tocar fortemente no ponto do porquê chegamos aos estados que chegamos.

Este me gerou reflexões muito pertinentes, vale a leitura na integra, da qual destaco alguns trechos:

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Consumimo-nos animadamente, ao ritmo de emoticons. E, assim, perdemos só a alma. E alcançamos uma façanha inédita: ser senhor e escravo ao mesmo tempo.

Estamos exaustos e correndo. Exaustos e correndo. Exaustos e correndo. E a má notícia é que continuaremos exaustos e correndo, porque exaustos-e-correndo virou a condição humana dessa época. E já percebemos que essa condição humana um corpo humano não aguenta. O corpo então virou um atrapalho, um apêndice incômodo, um não-dá-conta que adoece, fica ansioso, deprime, entra em pânico. E assim dopamos esse corpo falho que se contorce ao ser submetido a uma velocidade não humana. Viramos exaustos-e-correndo-e-dopados.

nos falta silêncios. 

Afinal, se tudo é possível, como eu não posso? O imperativo do tudo é possível é, paradoxalmente, aniquilador. Porque, obviamente, tudo não é possível. Nada mais limitante do que acreditar não ter limites. E viver como se poder poder dependesse apenas da (livre) iniciativa de cada um. E não poder poder, ter limites, portanto, fosse um fracasso pessoal.
Han sugere que a depressão é um cansaço de fazer e de poder. Só uma sociedade que acredita que tudo é possível é capaz de engendrar a lamúria depressiva de que nada é possível. “Não mais poder poder leva a uma autoacusação destrutiva e a uma autoagressão”
Há que se escutar o mal-estar – e não calá-lo. Vivê-lo num processo de interrogação, vivê-lo como movimento. Carregar os limites, sem confundir ter limites com estar paralisado. Não há potência total, não há tudo é possível, não há Yes, we can. Não ter potência total não é o mesmo que ser impotente. A ilusão da potência total é que acaba levando à impotência. Há potência em dizer não – e há potência em não fazer. Como Bartleby, o personagem de Herman Melville intuiu, “prefiro não fazer” pode ser um ato de resistência e de reconexão com a própria humanidade

“prefiro não fazer” pode ser um ato de resistência e de reconexão com a própria humanidade.

Senhor e escravo ao mesmo tempo, temos uma chance enquanto houver também um rebelde. Escutá-lo é preciso. Anestesiá-lo não é.
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http://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/04/politica/1467642464_246482.html?rel=mas

Se sentir impotente é algo frequente em quem tem depressão, justamente porque acreditamos que temos que ser capazes de dar conta de tudo, então, não somos capazes de nada? Claro que não, mas quantas vezes não foi assim que nos sentimos?

A vida é complexa mesmo e aceitar nossos limites é passo primordial para viver bem consigo mesmo - atitude fundamental para sair da nossa "areia movediça".

Aliás, fazer o mínimo possível talvez pode ser uma experiencia muito mais produtiva do que buscar o máximo - e permanecer exausto. Aprendi com uma amiga que: se ninguém vai morrer, não é urgente.

No entanto... antes de recorrer a esse aprendizado, é bom verificar se não há por trás uma morte simbólica de si próprio. Se houver indício, é respirar fundo e encarar, pois isso muda o seu mundo. ;)

Um comentário:

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